Joel Santana: Rei ou Bobo da Corte?
Por Fábio Laudonio.
No mundo do futebol, muita gente já quis ter para si o título de Rei do Rio: Túlio, quando jogava pelo Botafogo no título brasileiro de 95, Renato Gaúcho, depois de seu histórico gol de barriga pelo Fluminense no Campeonato Carioca, e até mesmo Romário já brigou ferrenhamente pela coroa de ser o mestre da cidade maravilhosa.
Mas, nenhum ostentaria tão bem esse cargo quanto Joel Santana. Domingo, o treinador conquistou o seu sétimo título carioca (único treinador, inclusive, a ter ganho o Campeonato Carioca pelos 4 grandes: Fluminense, Botafogo, Vasco e Flamengo). Também é dele o recorde de jamais ter perdido uma final de turno do Carioca (para quem não sabe, o Campeonato Carioca é feito em dois turnos: O primeiro, a Taça Guanabara, e o segundo, a Taça Rio. Caso o mesmo time conquiste os dois turnos, ele é declarado automaticamente Campeão Carioca. Mas, se os campeões dos dois turnos forem diferentes, temos mais dois jogos entre os vencedores dos turnos para ai sim conhecermos o Campeão Carioca). Mas, porque Joel Santana carrega consigo a fama de treinador folclórico, e até um pouco fanfarrão? Bom, para isso, irei explicar agora um pouco mais sobre a história dessa curiosa figura do futebol brasileiro.
Várias situações bizarras (e ao mesmo tempo engraçadas) acompanham o treinador desde o seu nascimento. A começar pelo seu sobrenome. Joel Natalino Santana nasceu no dia 25 de Dezembro de 1948 (Natalino nascido no dia de Natal.). Iniciou a carreira de jogador atuando como zagueiro pelo Vasco da Gama (já tardiamente, com exatos 23 anos de idade, porém não passaria em branco, conquistando o título de campeão carioca de 1970). Vendo que não tinha muito jeito pra coisa, Joel decidiu se aposentar com 30 anos e seguir a carreira de treinador, onde, segundo ele, teria mais chance de fazer sucesso no futebol.
Joel Santana ( a direita ), caminha ao lado de Dunga, na época em que atuava como zagueiro pelo Vasco.
Como tudo na vida é difícil, Joel começou a sua carreira como treinador pelo então desconhecido Al Wasl FC, dos Emirados Árabes (time que até hoje conquistou sete títulos da Liga dos Emirados Árabes). Joel passou quatro anos no clube, sem ganhar absolutamente nada. Decidiu então voltar ao Rio de Janeiro, mais especificamente pra o clube que o revelou para o futebol: O Vasco da Gama.
No Vasco, Joel não foi tão feliz, e ficou pouco mais de um ano (Entre 1986 e 1987). O treinador, então, resolveu se mudar e treinar o Al Hilal, da Arábia Saudita. Joel até tentou voltar ao Rio, comandando o América, mas não deu certo, e voltou para a Arábia. Somente em 92 Joel se consagraria como um treinador top do futebol do Rio, voltando definitivamente para ficar.
No Campeonato Carioca daquele ano, Joel levou o Vasco da Gama ao título, conquistado de forma invicta. No ano seguinte veio o bi campeonato. O treinador ainda conquistaria o título carioca como treinador em mais cinco oportunidades (Fluminense em 1995, Flamengo em 1996 e 2008, e pelo Botafogo em 1997 e 2010). O título desse ano o aproxima de Flávio Costa, o recordista de taças cariocas, com oito conquistas.
Flavio Costa ainda é o recordista de títulos do Campeonato Carioca
Na maioria de seus títulos, Joel pegou um grupo de jogadores limitados e desacreditados, e os transformou em verdadeiros guerreiros, o que lhe rendeu a fama de treinador apaziguador de crises. Porém Joel já mostrou a sua capacidade tática em algumas oportunidades.
Em 2000, Joel foi chamado para treinar o Vasco, na última partida da final diante do Palmeiras, pela extinta Copa Mercosul. Jogando fora de casa, o Vasco foi sufocado no primeiro tempo pelo Palmeiras, que ainda contava com alguns atletas remanescentes da era vitoriosa da Parmalat. 3 a 0 parecia ser um placar impossível de ser revertido em 45 minutos. Mas a estrela do treinador parece brilhar em momentos decisivos e, com um show de Romário, o Vasco sagrou-se campeão com o incrível placar de 4 a 3, em pleno Palestra Itália.
Os gols comentados por quem jogou essa épica partida.
Local: Palestra Itália (São Paulo)
Data: 20 de dezembro de 2000
Árbitro: Márcio Rezende de Freitas (MG)
Gols: Arce aos 36, Magrão aos 37 e Tuta aos 45 minutos do 1º tempo; Romário aos 14, 23 e aos 48; Juninho Paulista aos 40 minutos do 2º tempo.
Cartões amarelos: Flávio e Juninho (Palmeiras); Hélton, Odvan, Jorginho Paulista e Nasa (Vasco).
Expulsão: Júnior Baiano aos 32 minutos do 2º tempo.
PALMEIRAS
Sérgio, Arce, Gilmar, Galeano e Tiago Silva; Fernando, Magrão, Taddei e Flávio; Juninho e Tuta (Basílio). Técnico: Marco Antônio.
VASCO
Hélton, Clébson, Odvan, Júnior Baiano e Jorginho Paulista; Jorginho (Paulo Miranda); Nasa (Viola), Juninho e Juninho Paulista; Euller (Mauro Galvão) e Romário. Técnico: Joel Santana.
Romário, sempre provocativo, mandando a torcida do Palmeiras calar a boca em pleno Palestra Itália
As vitórias emblemáticas não são as únicas que perseguem o treinador. As derrotas impossíveis também parecem viver no encalço de Joel, mistificando-o ainda mais, seja para o bem, seja para o mal. Uma delas é bem recente, e até hoje causa um frio na espinha da maior torcida do Brasil...
Libertadores de 2008. Joel, depois de mais uma conquista de Campeonato Carioca, parecia inabalável no comando do grupo rubro negro que almejava agora mais uma conquista, dessa vez internacional. O time enfrentaria nas oitavas de final o América do México. Na primeira partida ocorrida em solo mexicano, o Flamengo atropelou os donos da casa pelo placar de 4 a 2, saindo com uma bela vantagem para decidir o confronto em seus domínios.
Gols da vitória do Flamengo no México
Data: 30/04/2008 (Quarta-feira)
Local: Estádio Azteca, Cidade do México (MEX)
Árbitro: Carlos Chandía (CHI)
Auxiliares: Lorenzo Acuña (CHI) e Patricio Basualto (CHI)
Cartões amarelos: Villa e Esqueda (América); Jaílton e Bruno (Flamengo)
Gols: Marcinho, aos 43, Cervantes, aos 45 minutos do primeiro tempo; Marcinho, aos 24, Mosqueda, aos 26, Diego Tardelli, aos 42, Leonardo Moura, aos 47 do segundo tempo
AMÉRICA-MEX
Ochoa, Sebá, Cervantes e Rodríguez (Higuain); Castro, Mosqueda, Villa, Silva e Rojas; Esqueda e Cabañas.
Técnico: Rubin Omar Romano
FLAMENGO
Bruno, Luizinho, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan (Leonardo Moura); Jaílton, Cristian (Diego Tardelli), Ibson e Kleberson; Marcinho e Souza (Obina).
Técnico: Joel Santana
Nesse ínterim, Joel recebeu uma proposta para ser o técnico da África do Sul. O jogo de volta, no Maracanã, seria a despedida dele do Flamengo. Por isso, os torcedores rubro negros resolveram encher o estádio, e prestar sua homenagem ao treinador, que foi ovacionado ao entrar em campo. Pena que, naquele dia, somente Joel pareceu ter entrado em campo. Numa partida irreconhecível, o Flamengo foi humilhado pelo América por 3 a 0, com dois gols do Paraguaio Salvador Cabañas ( que hoje luta para voltar ao futebol, depois de ter tomado um tiro na cabeça, durante uma discussão em um bar no México esse ano). A saída, que era vista como festiva, acabou se tornando melancólica.
Lances da triste despedida do Flamengo da Libertadores 2008
Local: Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.
Árbitro: Alfredo Intriago (EQU).
Renda: R$ 1.031.926,00.
Público: 47.115 pagantes.
Cartões amarelos: Leonardo, Marcinho, Rojas, Esqueda, Rodrigues e Villa.
Cartão vermelho: Juan.
Gols: Cabañas, aos 20'/1T e 32'/2T e Esqueda, aos 38'/1T.
Flamengo
Bruno; Leonardo Moura, Leonardo, Ronaldo Angelim e Juan; Jaílton (Renato Augusto), Kléberson (Obina), Ibson e Toró; Marcinho e Souza (Diego Tardelli).
Técnico: Joel Santana.
América-MEX
Ochoa; Sánchez, Sebá e Rodríguez; Castro, Villa, Argüello (Mosqueda), Silva e Rojas; Esqueda (Iñigo) e Cabañas (Higuaín).
Técnico: Juan Luna.
Joel Santana lamenta a vergonhosa eliminação diante do América do México, em pleno Maracanã.
Na África do Sul, Joel alternou entre bons e maus momentos. Porém, o treinador acabou virando um verdadeiro hit, mas fora de campo. Nessa época, Joel tinha que se explicar aos repórteres em inglês. Um vídeo de uma entrevista sua, tentando explicar as táticas do time em um inglês extremamente ridículo foi posto na internet, e gerou gargalhadas pelo mundo afora. O sucesso foi tanto que a entrevista virou até uma musiquinha remixada pelo site Bola Nas Costas do Globo Esporte.
Entrevista original de Joel Santana em inglês.
Funk baseado na entrevista do Joel
As peripécias extra campo de Joel Santana não param por ai. O treinador leva consigo atitudes folclóricas, como a velha e batida prancheta, que leva em todos os jogos. Joel jamais revelou o conteúdo da mesma, mas é uma companheira inseparável no banco de reservas, e nem o mais moderno Iphone parece tentá-lo a aposentar a companheira.
Joel na África do Sul: A amiga prancheta o acompanha aonde for....
Esse é Joel Santana. Vivendo sempre na berlinda do amor e do ódio entre os torcedores. No próprio Botafogo, onde foi campeão recentemente, o treinador já coleciona um vexame. Uma semana antes da conquista do Carioca, Joel e sua equipe foram eliminados da Copa do Brasil, em pleno Engenhão para o Santa Cruz, que hoje amarga a Quarta Divisão do futebol brasileiro. Sorte que, para Joel, suas conquistas são mais lembradas que seus erros, e será dele a tarefa de inaugurar a calçada da fama dos treinadores no estádio do Maracanã, para ficar eternizado no futebol carioca pelos seus inúmeros acertos de rei, que acabam ofuscando os seus poucos erros de bobo da corte.
Todos os títulos de Joel Santana:
- Jogador
- Vasco da Gama
- Campeonato Brasileiro: 1974
- Campeonato Carioca: 1970
- América de Natal
- Campeonato Potiguar: 1974, 1977, 1979 e 1980
- Treinador
- Vasco da Gama
- Copa João Havelange: 2000 (assumiu o time na partida de volta da semifinal)
- Copa Mercosul: 2000 (assumiu o time na última partida da final)
- Campeonato Carioca: 1992 e 1993
- Taça Guanabara: 1992
- Taça Rio: 1993
- Bahia
- Campeonato Baiano: 1994 e 1999
- Fluminense
- Campeonato Carioca: 1995
- Flamengo
- Campeonato Carioca: 1996 e 2008
- Taça Guanabara: 1996 e 2008
- Botafogo
- Campeonato Carioca: 1997 e 2010
- Taça Guanabara: 1997 e 2010
- Taça Rio: 1997 e 2010
- Vitória
- Campeonato Baiano: 2002 e 2003
- Copa do Nordeste: 2003
Entrevista de Joel concedida ao programa do Jô no dia 16/03/2010:
Parte 2
1 comentários:
caramba que post completo! Parabéns, a matéria está redondinha, fácil de entender e super bem escrita... vc é incrível amigão!
22 de abril de 2010 às 08:45Não sei como não está na área do jornalismo esportivo... Merece!
Bjus
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